Por Marcelo Copello (texto e fotos)
Como sempre digo: vinhos antigos são “de chorar” ou “pra chorar”. Na prova que relato hoje, de 6 grandes Bordeaux da histórica safra de 1949, dois deles estavam “de chorar” de felicidade, entrando na lista dos melhores vinhos que provei na vida. Três deles “pra chorar” de tristeza, pois não resistiram ao tempo. Antes de seguir, agradeço aos que me proporcionaram esta experiência e que comigo a compartilharam
A SAFRA 1949
Umas das grandes safras do século XX, 1949 entrou no hall dos grandes anos do pós-guerra: 1945, 1947, 1948 e 1949. Foi, junto com 1947, uma das safras mais quentes da história de Bordeaux, a a mais seca e com mais sol desde 1893. Excelente para margem direita e muito boa para esquerda, com muita riqueza e concentração, com vinhos um pouco menos alcoólicos e concentrados que os 1947 (que ganharam estilo de Vinho do Porto), mas com talvez mais equilíbrio e harmonia.
VINHOS
Dos seis vinhos provados dois fizeram jus à fama da safra e estavam arrebatadores, merecendo uma nota que raramente dou, “100+”.
Château Pétrus 1949
Um vinho simplesmente espetacular, de cor escura, ainda frutado, firme e bem definido, parece décadas mais novo. Paladar macio, com a elegância dos melhores Pétrus, um dos poucos que esvaziei a taça, um Pétrus muito Pétrus, com uma força jovial, textura e pureza inigualáveis, grande pureza e integração, com notas de frutas secas, frutas negras, especiarias exóticas, madeiras, café. Evoluiu na taça por horas. Perfeito.
Nota: 100+ pontos
Château Cheval Blanc 1949
Não é “port like” como dizem os ingleses, como o famoso 1947, mas é igualmente espetacular, mais clássico e elegante, dentro de um perfil de força e concentração, resultado de um ano muito quente. Cor escura, granada sem tanta evolução. Aroma refinado, de frutas muito doces, algo queimado (como carvão), tostados, trufas negras, flores secas, terra molhada, defumados, cedro. Paladar amplo e concentrado, de grande profundidade, denso e macio, tudo em extremo equilíbrio, com grande pureza. A finesse do Cabernet Franc aparece bem, perfeitamente casada com a “gordura” da Merlot. Parece um vinho décadas mais jovem. Inesquecível.
Nota: 100+ pontos
Sobre o Château Cheval Blanc 1949 vale a pena ver este VIDEO
Château Latour 1949
Cor granada-alaranjada entre clara e escura. Aroma etéreo, com notas de chocolate amargo, couro, nozes torradas, terra molhada, frutas negras.
Paladar estruturado, poderoso e seco, taninos firmes, quase rústico se comparado à tradicional finesse dos Latours. Ainda com vida pela frente
Nota: 95 pontos
Château Margaux 1949
Alaranjado muito claro. Aroma totalmente etéreo, com notas de couro, especiarias exóticas, madeiras, cedro. Paladar magro, diluído. Evidentemente uma garrafa já cansada, pois esta tem fama de ser uma das safras mais concentradas do Margaux. Ainda bebível, mas já decaindo.
Nota: 93 pontos
Château Mouton Rothschild 1949
Muito escuro, turvo. Aroma intenso, com muitas notas balsâmicas e químicas, com frutas secas, geleias, couro. Paladar concentrado e macio, com muitos taninos, mas já domados, com notas de amargor no fim de boca, já decaindo e por isso sem nota.
Sem Nota
Château Lafite Rothschild 1949
Muito clarinho e alaranjado na cor. Aroma muito evoluído, com notas de chá preto, cogumelos e uma nota química. Paladar muito seco, diluído, ainda bebível mas já decaindo e por isso sem nota.
Sem nota