Esse livro explica por que a região demarcada do Douro vai além do porto, e como o vinho verde é hoje uma das bebidas mais tradicionais e também mais modernas no campo da enologia; apresenta as castas que fazem parte de cada vinho, conta a história de quintas famosas, revela curiosidades dos modos de produção, ensina a comprar, armazenar e servir tipos diferentes de vinho e dá dicas de harmonização com alimentos inusitados. Traz receitas de pratos típicos e roteiros de passeios nessas regiões.
Depoimento de Arnaldo Lorençato, jornalista e escritor especializado em gastronomia, editor da revista Veja São Paulo e
professor de jornalismo da Universidade Mackenzie.
"A partir de 2000, fui, numa primeira fase, editor de gastronomia do suplemento cultural. Fim de Semana, da Gazeta Mercantil e, posteriormente, editor de todo o caderno até me desligar do diário econômico em 2005. Desde o início, idealizava o projeto de ter um colunista de vinhos do Rio de Janeiro ou de outra capital. Como se trata de um jornal nacional com sede em São Paulo, queria reduzir o sotaque excessivamente paulistano do suplemento. Numa consulta a um amigo jornalista de bares, ele sugeriu o nome de Marcelo Copello, profissional de informática e autor dois livros sobre o tema (O vinho para quem tem estilo e Diário de um náufrago em um mar de vinho). Li as duas obras e gostei muito. Apesar da simplicidade do texto, percebi que estava diante de alguém de um potencial extraordinário e sem experiência anterior na imprensa. Convidei Copello para ser colaborador da Gazeta Mercantil e ele se revelou um dos mais sensíveis cronistas de vinhos do Brasil. A cada semana, Copello nos presenteia com sua inteligência. Escreve de maneira sensível, usando um traço de erudição desprovido de qualquer pedantismo. Sabe traduzir cada taça degustada sem aquela linguagem abominável dos enochatos. Neste Os sabores do Douro e do Minho, ele apresenta duas das mais fascinantes regiões produtoras de Portugal. Conduz-nos pelas margens do mítico Rio Douro, primeira área vinícola demarcada no mundo onde se produzem não apenas fortificados extraordinários, como também tintos de uma aquilatada nobreza, longevos e potentes. Do Minho, Copello exalta o frescor contido no vinho verde, conhecido pela exuberância de aromas e pela vivacidade. Propõe um tour repleto de preciosas e precisas informações, mais curiosidades e sugestões de harmonização – algumas bastante ousadas. Um passeio agradável para ser sorvido gota a gota.
Abertura
Este livro mostra a riqueza cultural, histórica e gastronômica da alimentação de um povo. Mostra que os sabores do Douro e do Minho não pertencem mais apenas a quem lá vive, são patrimônio de todos nós, que temos boca e queremos usá-la.
Este livro conta histórias e “causos”, muitos já pertencentes aos anais conhecidos e alguns pessoais, meus. Este livro evidencia fatos esquecidos por alguns portugueses e pouco conhecidos dos brasileiros, como a magnitude da importância econômica do vinho para Portugal.
O assunto do ano na mídia cultural brasileira é a comemoração dos 200 anos da chegada da família real portuguesa ao Brasil (1808-2008). Pouco se falou no entanto da importância histórica do vinho neste fato político. O Brasil atraiu a D. João VI para cá pois já era uma potência econômica, mesmo após o fim do ciclo do ouro, e um mercado consumidor importante para produtos ingleses e para o principal item nas exportações portuguesas: o vinho. Este líquido delicioso movimentava e movimenta enormemente a política da terrinha.
Um caso à parte no universo do português é o vinho do Porto, que veremos ser fruto de um trabalho insano, em torno de um rio outrora feroz. Este delicioso vinho é um ninho de normas e leis, algumas boas outras más, todas defendidas e atacadas politicamente. O Douro é a região vinícola no mundo mais regulamentada, regulada, controlada, certificada, cadastrada, demarcada, organizada, legislada, com a o maior número de institutos, órgãos, associações, comissões, câmeras, conselhos, clubes, consórcios, organismos, sociedades e confrarias... Tudo isso ao longo do tempo foi criado, adaptado, modificado, cancelado, recriado, ampliado, revisto, modificado em meio a guerras, disputas, condenações, banimentos, execuções, indicações, prisões, nomeações, deposições, revoluções, eleições...
Este também é um livro que guarda em suas entrelinhas um delicioso equilíbrio. De um lado o verdor do Vinho Verde e do outro o Vinho do Porto, com sua cor vermelho escura, quase negra. Estamos diante da oposição original clássica do verde-vermelho, a relação água-fogo. Verde é equilíbrio, repouso, primavera e esperança. Vermelho é paixão, força, fogo, revolução, verão, o glamour do tapete vermelho, a cor da guerra e da provocação nas touradas. Veremos que esta simbologia se encaixa como uma luva nos estilos e nas histórias destes vinhos. Espero que o leitor a cada página, a cada taça de Vinho Verde e a cada Porto decantado, saboreie um pouco desta dicotomia esperança-paixão.
Na medida do possível, o livro foi compartimentado em pequenos capítulos, pequenos goles e garfadas, para tornar-se mais digestivo e de fácil leitura, para respeitar e merecer o tempo do leitor, uma honra para mim.
Obrigado e boa leitura!