Por Marcelo Copello (trecho do livro “Os Sabores do Douro e do Minho” Editora Senac-SP)
Você sabia que o vinho do Porto, em seus primórdio, era seco?
A caracterização do vinho do Porto que conhecemos hoje, com cerca de 20% de álcool e doce, demorou séculos para tomar forma.
No passado, sempre coexistiram entre os vinhos do Douro, os secos e os mais ou menos doces, todos chamados de Vinho do Porto. Inicialmente os vinhos do Douro eram fortificados apenas para suportar as viagens. Quando começou a ser fortificado no século XVII, o Porto levava 13 a 18 litros de aguardente por pipa (de 550 litros), o que não o tornava doce. O que aos poucos impôs a doçura foi o já relatado “gosto inglês” (leia em: http://www.marcelocopello.com/post/a-influencia-inglesa-no-vinho-do-porto ). O “benefício” , ou adição de aguardente, passou a ser feito durante a fermentação, preservando a doçura natural do vinho, e as quantidades de aguardente utilizadas foram crescendo ao longo dos anos até alcançar os 110 litros atuais.
Joseph James Forrester (1809-1861), foi um escritor, acadêmico e artista. Forrester foi o primeiro a cartografar o rio Douro e a região, e a criar mapas que viriam a se tornaram referência. Ele desenvolveu também numerosos estudos de viticultura e deixou uma importante obra gráfica (pintura, desenhos e esboços), embebida em paixão pelo Douro e seu vinho. A contribuição de Forrester para o desenvolvimento da região valeu-lhe o título de Barão.
Produtor de Vinho do Porto, proprietário da Porto Offley, e autor de vários livros sobre o assunto, o Barão era o mais notório entusiasta do “Porto seco”. Apesar de cidadão inglês ele defendia um vinho seco, com pouca ou nenhuma aguardente, enquanto seus compatriotas clamavam por vinhos doces, retintos e encorpados, estilo que aos poucos foi se impondo.
O Vintage 1820 – ano excelente e fora do comum, era encorpado, mais doce que o usual e teve enorme aceitação. Este Vintage é considerado por várias fontes como o arquétipo do Vinho do Porto que bebemos hoje. Já existiam Portos doces antes de 1820, mas não era o mais comum. O “estilo 1820”, mais doce, passou a ditar padrão e aos poucos o Porto passou a ser sinônimo de vinho doce.