Por Marcelo Copello
Qual o melhor vinho branco doce do mundo? Se você fez seu dever de casa, a resposta está na ponta da língua: Château d’Yquem. Você não está errado. É verdade. Mas as verdades no vinho não são sagradas. São dinâmicas, mutáveis, flexíveis e cheias de nuanças e exceções.
Em uma prova particular, pela qual agradeço infinitamente a quem me proporcionou e comigo compartilhou estas garrafas especiais, atestei que nem sempre o Yquem vence. Foram reunidas 3 garrafas de vinho monumentais, da excelente e quarentona safra de 1976. A prova foi às cegas, embora não fosse difícil saber quem é quem, ou quem é Yquem. Vejamos o surpreendente resultado:
3o lugar
Château d’Yquem 1976, Bordeaux-França
Elaborado com 80% Sémillon and 20% Sauvignon Blanc. De cor dourada, quase tangerina, com reflexos âmbar. Exuberante no nariz, complexo, com aromas típicos da botrytis (verniz, glicerina), mel , laranja, caramelo, damasco seco, nozes. No paladar parece mais maduro e evoluído que no nariz, mostrando notas de frutas maduras, tropicais, com paladar doce, longo, com a finesse e equilíbrio típicos do Yquem,
Nota: 95 pontos
2o lugar
Tokaji Aszu Essencia 1976, Monimpex, Tokaji-Hegyalja, Hungria
Feito somente nos melhores anos, com uvas 100% Aszu atacadas pelo fungo Botrytis, colhidas uma a uma à mão. O mosto chega a 390 gramas por litro de açúcar e o vinho a 160. O vinho amadurece 10 anos em tonéis. De cor marrom
Cor marrom. Aroma perfumado com notas de flores secas, melaço, amêndoas, geléia de laranja, sultanas, chocolate branco. Paladar extremamente doce, 13,5% de álcool (alto para um Essencia), acidez, moderada, profundo, com camadas de sabores, extremamente longo, encanta peça concentração e por sua persistência infinita
Nota: 95 pontos
1o lugar
Wallufer Walkenberg Spätburgunder Trockenbeerenauslese 1976, J.B. Becker, Rheingau-Alemanha
Este nome complicado requer legenda.
Wallufer Walkenberg = nome do vinhedo
Spätburgunder = nome da uva, a Pinot Noir
Trockenbeerenauslese = uvas selecionadas, secas e atacadas pelo fungo Botrytis
1976 = a safra, um grande ano para os vinhos alemães
J.B. Becker = nome do produtor
Rheingau = nome da região, o Vale do Reno)
Elaborado com uvas tintas Pinot Noir em branco, sem suas cascas. Cor âmbar, claro. No nariz é coeso e denso, com notas bastante doces destrudel de maçã, mel, passas, caramelo, amêndoas torradas. Paladar doce e ao mesmo tempo muito fresco, com ótima acidez e uma ponta de taninos que ajudam a equilibrar a doçura, formando um conjunto sublime. O rótulo diz, 11,91% de álcool. É menos exuberante que o Yquem e menos impactante no paladar que o Essencia, mas na boca é o mais equilibrado e com maior frescor.
Nota: 97 pontos