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Você conhece os diversos tipos de Vinho do Porto?

Você conhece os diversos tipos de Vinho do Porto?

10/05/2017

Marcelo Copello

Mundo do Vinho

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Por Marcelo Copello

“Vinho do Porto cura tudo, cura até mau caráter. Pois nunca houve bebedor de Porto que não tivesse amigos a falar em seu favor” (autor anônimo).

Paradoxalmente, o Porto é ao mesmo tempo consagrado mundialmente e incompreendido. Para o grande publico ao redor do planeta “Porto é Porto”, aquele tinto docinho servido em pequenos copos, com aperitivo. Muitos esquecem, porém, da riqueza de tipologias que só o Porto tem.

De tudo que se consome de vinho do Porto no mundo 88% é o que chamamos de “Porto corrente”, os mais simples, das categorias Ruby e Tawny. Os 12% restantes ficam com os Vintages, Colheitas, Tawnys velhos (10, 20, 30 e 40 anos), etc.

Os Portos tintos podem ser classificados de diversas maneiras. O mais comum é dividi-los em: os que são misturas de vinhos de safras diferentes e não trazem no rótulo a data da colheita, e os safrados, fruto de um único ano. Ou ainda: os que envelhecem em garrafa e os que envelhecem em madeira (sempre madeira usada). 

Vejamos a seguir cada uma das principais categorias de Porto.

Porto Branco

O Porto branco é pouco conhecido no Brasil, o que é uma perda, pois é ótimo para coquetéis e muito versátil à mesa (leia mais em “Coquetéis com Vinho do Porto” e “Como combinar os vinhos do Douro e Porto com alimentos”).

O vinho do Porto branco é feito com as uvas brancas recomendadas e autorizadas na região, e apresenta uma doçura variável, indicada nos rótulos, que vai desde os muito doces, chamados “Lágrima” (mais de 130 gramas de açúcar por litro de vinho – g/l), passando pelos “Doces” (entre 90 e 130 g/l), “meio-secos” (entre 60 e 90 g/l), “seco” (entre 40 e 65 g/l) até os “extra secos” (menos de 40 g/l). O teor alcoólico varia entre 16,5% e 22%.

Em geral, o Porto branco é um vinho jovial e fresco, é filtrado a frio e normalmente não passa por cascos, sendo elaborado em cubas de inox, que irão manter seu frescor.

Existem, no entanto, categorias mais raras de Porto branco, infelizmente difíceis de se achar no mercado, que são os Colheitas brancos e os Tawnys brancos com indicação de idade (10 anos, 20 anos, 30 anos e Mais de 40 anos). Estes seguem as mesmas leis em sua elaboração que os tintos das mesmas categorias (Colheitas e Tawnys velhos). 

Tawny

O Porto Tawny é a categoria mais simples de Porto, amadurecido em madeira e comercializado com idade média de três anos. É uma mistura de safras e não traz data de colheita no rótulo. É filtrado e não evolui em garrafa, ou seja, deve ser consumidos depois de adquirido, e uma vez aberta a garrafa, esta deve ser esgotada ao longo de dois ou três meses. O nome Tawny significa “aloirado” e se refere à cor que o vinho adquire com seu amadurecimento em cascos.

Ruby

Os Porto Ruby tem cor mais vermelha que os Tawny, como a pedra “rubi”, e são amadurecidos em balseiros (recipientes maiores, com menos oxigenação para manter sua cor mais viva). São uma mistura de safras (cuja média perfaz três anos) e não trazem data de colheita no rótulo. São filtrados e não evoluem em garrafa, ou seja, devem ser consumidos após adquiridos. Diferentemente do Tawny, a garrafa de Ruby após aberta deve ser consumida ao longo de poucos dias.

Tawny 10 Anos, 20 Anos, 30 Anos e Mais de 40 Anos

Aqui já começamos a falar de grandes vinhos. Os Tawys “10 Anos”, “20 Anos”, “30 Anos” e “Mais de 40 Anos” ficam normalmente vários degraus acima dos Tawnys e nem mereciam ter nomes tão semelhantes. Também chamados de “Tawny com indicação de idade” ou “Tawny velho”, todos amadurecem em cascos e são frutos de misturas de safras, não trazendo, portanto, indicação do ano de colheita no rótulo. Podem ser tintos e brancos, embora os brancos sejam raros.

Nesta categoria entra em grande peso a técnica do enólogo em misturar vinhos. Um mesmo Porto da safra de 1983, por exemplo, que está envelhecendo em casco por décadas, pode ser engarrafado puro como um “Colheita 1983”, ou misturado a vinhos mais novos e mais velhos para formar um “Tawny com indicação de idade”, que poderá ser um “10 Anos”, “20 Anos”, “30 Anos” e “Mais de 40 Anos”, conforme os outros vinhos e quantidade de cada vinho que entrou no lote. 

A indicação “Tawny 20 anos de idade”, por exemplo, indica que a média de idade dos vinhos misturados perfaz a idade (no caso, 20 anos no mínimo, podendo ser mais) expressa no rótulo. Assim este “20 anos” pode conter vinhos com menos de 20 anos e outros com mais de 20 anos, por exemplo. Normalmente, um vinho mais velho se beneficia ao ser misturado com o mais novo que lhe dará frescor e juventude.

Colheita

Os “Colheita” têm estilo semelhantes aos “Tawnys com indicação de idade”, mas feitos de uma única safra. Por lei, permanecem um mínimo de sete anos em cascos, mas na prática ficam muito mais. É possível encontrar no mercado Colheitas antigos, da década de 60, por exemplo, que permaneceram cerca de 40 anos em madeira e chegaram só agora às prateleiras. Não por acaso, estes se assemelham a um “Tawny Mais de 40 Anos”. Normalmente ficam em cascos e são engarrafados à medida que o mercado demanda. Trazem a data de engarrafamento no contra-rótulo ou rótulo. Podem ser tintos ou brancos, embora os brancos sejam raros. 

Os Colheita são uma das categorias mais nobres do Porto e, apesar filtrados, podem envelhecer (embora pouco) depois de engarrafados. Depois de aberto poderá ser consumido ao longo de dois meses, embora com o tempo perca muito de seus aromas mais delicados.

LBV – Late Bottled Vintage

O “Late Bottled Vintage” ou LBV é o Porto da moda, em ascensão, por sua boa relação qualidade-preço e por seu estilo mais frutado, mais próximo aos vinhos de mesa. Nos remete a um  Vintage (leia abaixo), mas custa bem menos, por isso às vezes é chamado de “Vintage dos pobres”. As contrário dos Vintages, os LBV são feitos todos os anos.

Esta é uma categoria recente, criada no depois da 2ª guerra mundial, quando sobrava muito Vintage nos balseiros sem encontrar comprador e que acabavam por perder suas características, sendo engarrafados mais tarde. Esta prática acabou por se tornar uma categoria em si, que foi formalizada nos anos 1960. O primeiro LBV a sair ao mercado teria sido o Taylor’s LBV 1965, lançado em 1970.

Os LBVs ficam em grandes balseiros e são engarrafados entre o 4º e 6º anos após a colheita. Estes “baby Vintage” mantêm cor viva e o caráter frutado mas, por terem ficado alguns anos em madeira, chegam prontos ao mercado, com taninos arredondados. Por estas características o LBV é o Porto mais utilizado para acompanhar sobremesas a base de chocolate.

Existem dois tipos de LBV, os filtrados e não filtrados (“Traditional” ou “Unfiltered”, informação que consta do rótulo). Os primeiros não evoluem em garrafa nem precisam ser decantados antes de servidos. Os “Traditional” são um pouco mais encorpados e vigorosos, podem envelhecer em garrafa e devem ser decantados antes do consumo. Depois de abertos devem ser bebidos em pouco tempo, os não filtrados resistem um pouco mais, até alguns dias.

O Vintage

Finalmente chegamos ao Porto de maior prestígio, o “Vintage”. Só os melhores vinhos, com mais cor e corpo, são Vintage, que só é feito nas melhores safras, normalmente três a quatro anos por década apenas. Em termos de volume, o Vintage significa apenas de 2% a 5% da produção, nos anos em que é feito.

O Vintage permanece em tonéis ou balseiros, pois cerca de dois anos até ser engarrafado, o que acontece entre 1º de julho do 2º ano e 31 de dezembro do 3º de ano após a colheita. O Vintage sempre traz o ano da colheita no rótulo, não é filtrado, presta-se a longa guarda, evolui por décadas (alguns mais de século). Ao ser aberto deve ser decantado e totalmente consumido. Se for um Vintage novo pode agüentar aberto por um par de dias, mas se for uma safra muito antiga, recomendo decantar apenas no momento de degustar, pois o líquido só viverá algumas horas após aberta a garrafa.

Leia também: Sabe o que é um Porto?

Marcelo Copello

Marcelo Copello


Marcelo Copello é um dos principais formadores de opinião da indústria do vinho no Brasil, com expressiva carreira internacional. Eleito “O MAIS INFLUENTE JORNALISTA DE VINHOS DO BRASIL” pela revista Meininger´s Wine Business International, e “Personalidade do Vinho” 2011 e 2013 pelo site Enoeventos.

Curador do RIO WINE AND FOOD FESTIVAL, e Publisher do Anuário Vinhos do Brasil, colaborador de diversos veículos de imprensa, colunista da revista Veja Rio online. Professor da FGV, apresentador de rádio e TV, jurado em concursos internacionais de vinho, como o International Wine Challenge (Londres). Copello tem 6 livros publicados, em português, espanhol e inglês, vencedor do prêmio Gourmand World Cookbook Award 2009 em Paris e indicado ao prêmio Jabuti.

Especialista no mercado e nos negócios do vinhos, fazendo palestras no Brasil e no exterior, em eventos como a London Wine Fair (Londres). Copello é hoje um dos palestrantes mais requisitados. Para saber mais sobre as palestras e serviços de Copello clique AQUI

  

Contato: contato@marcelocopello.com