"Meia? Só as de calçar" Luis Van Zeller
O caro leitor talvez tenha se perguntado "o que é jéroboam?" Quem acha que é o nome de um rei da antiguidade não está errado, mas no universo de BACO trata-se do nome de uma tipo de garrafa. Os formatos de garrafas recebem nomes, muitas vezes de antigos reis,conforme sua capacidade em litros, mas que podem diferir conforme a região ou país. Jéroboam no caso do champagne e espumantes, seria a garrafa de 3 litros, enquanto que para os Bordeaux e demais tintos e brancos a de 3 litros é chamada de double-magnum e jéroboam é o nome da garrafa de 4,5 litros (veja o quadro a seguir). Há ainda um porém. Nos Estados Unidos as leias exigem que a capacidade das garrafas seja em número redondo de litros, neste caso a jéroboam lá tem capacidade de 5 litros, ou quase 7 garrafas.
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E o tamanho faz alguma diferença? Toda! O capacidade das garrafas influencia a evolução do vinho. Quanto maior a garrafa mais lento é o envelhecimento e maior a capacidade do vinho chegar bem à idade avançada. Além disso, garrafas grandes ajudam o vinho em sua integração, sensação de unidade e equilíbrio. Os múltiplos fenômenos que causam esta diferença não são ainda totalmente explicados, embora se saiba que a proporção de oxigênio na garrafa (bem menor nos grandes formatos) seja o principal fator da diferença.
Empiricamente, contudo, provando vinhos, esta diferença é mais que obvia. Mas aviso: só se percebe a variação em vinhos mais velhos. Ao provar vinhos jovens, comparando garrafas normais ou grandes, a diferença é mínima ou nenhuma. Com o passar dos anos, no entando, as maiores fazem diferença.
Pude comprovar esta tese ao provar 5 safras em garrafas jéroboam de 5 litros, de um dos maiores vinhos do mundo, o Chatêau Mouton-Rothschild, da região de Pauillac em Bordeaux-França. Não bastasse o vinho ser magnífico, as garrafas de Mouton são sempre um espetáculo à parte, pois cada safra tem seu rótulo decorado com uma obra de arte exclusiva de um artista convidado. Garrafas gigantes como estas são uma obra de arte em si, e proporcionam um espetáculo ao serem abertas, com rolhas que tem diâmetro o dobro de uma rolha normal e que, com capacidade de 6 ou 7 garrafas, consomem vários decanters cada uma para a aeração do vinho. Vejamos como estava cada um destes "vinhos de garrafão".
Chatêau Mouton-Rothschild 2000
Decantado 7hs antes da degustação (decantado às 7hs da manhã e provado às 14hs), e mesmo assim ainda abiu-se muito na taça ao longo da prova. Cor granada escuro. Aroma rico, já com notas terciárias de evolução, aroma de couro, grafite, musgo, madeira nova bem presente, passas, cassis, pimentão verde, mineral terroso. Paladar de grande estrutura, um gigante, gordo, largo, com boa acidez, taninos doces e presentes, muito vivo e finíssimo. Mais precoce do que eu esperaria para um jeroboam, ainda jovem mas já quase pronto e com mais cerca de 15 anos pela frente. Confesso que foi o que menos emocionou nesta prova, em um estilo com concessões, mais moderno que clássico.
Nota: 94 pontos
Chatêau Mouton-Rothschild 1990
Decantado pouco tempo antes do serviço, como todos os demais à excessão do 2000.
Muito aberto expressivo, o mais expressivo no nariz de toda a prova, um carro alegórico nos aromas, bastante mineral, com madeira bem tostada e nota de pimentão típica da Cabernet Sauvignon, notas de café. Paladar seco e sério, menos exuberante que o nariz, de bom corpo, com taninos secos, muito longo. Um Bordeaux completo e no auge.
Chatêau Mouton-Rothschild 1989
Granada com reflexos alaranjados. No nariz, embora menos exiberante que o 1990, é absurdamente elegante, complexo, finíssimo, com a nota de pimentão da Cabernet Sauvignon, musgo, tabaco, muitas especiarias, cedro, cassis, amoras, baunilha, gradite,café, couro. Na boca é perfeito, um veludo, encorpado e refinado, longo e completo, redondo,
uma integração perfeita. Já maduro, mas com vida pela frente. Um espetáculo.
Nota: 98 pontos
Chatêau Mouton-Rothschild 1985
Granada escuro, com reflexos alaranjados. Aroma intenso, adocicado e absolutamente fino, com notas de terra molhada, madeiras, cassis, cedro, eucalipto, couro, grafite. Paladar seco, de bom corpo, o menos encorpado da prova, taninos em absoluto veludo, longo, não é a perfeição em equilíbrio. Chama a atenção,pela integração e elegância.
Prontíssimo, o mais pronto de toda a prova, em seu auge, sem o mínimo sinal de decínio, mas não deve evoluir mais.
Nota: 96 pontos
Chatêau Mouton-Rothschild 1970
Cor granada escuro com reflexos alaranjados. Aromas elegante, com finesse, mas não muito exuberante, com notas florais, de tostados, café, caramelo, couro, cassis, balsâmicos, grafite, musgo, frutas secas, muitas especiarias. É no paladar que o 70 brilha, com seus magníficos taninos. Este é um vinho para a boca, seco, com acidez e taninos firmes, quase austero. Um monumento de estrutura, com grande concetração. Está com mais de 40 anos e ainda jovial e nervoso. Dos vinhos provados este é o mais velho e o com maior potencial de guarda.
Nota: 100 pontos