Por Marcelo Copello
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Apostelwein Rüdesheimer 1727 - este vinho é conhecido pelos colecionadores no mundo inteiro como “O VINHO MAIS VELHO DO MUNDO” ainda bebível. Além de uma raridade e uma delícia, este caldo também tem uma história maravilhosa.
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O prédio da prefeitura de Bremen, na Alemanha, é Patrimônio Mundial da UNESCO, e seu porão guarda uma preciosidade. Doze grandes tonéis de vinho (o mais antigo é de 1653), com cerca de 3 mil litros cada, batizados com os nomes dos 12 apóstolos. Ao contrário dos demais tonéis, o batizado como Judas, ainda guarda um vinho potável, da melhor safra do século XVIII, 1727!
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O vinho deste tonel nunca foi vendido, apenas retirava-se uma pequena quantidade do grande tonel, para atos oficiais da cidade, como presentear políticos etc. As micro quantidade retiradas sempre foram repostas com o melhor vinho do ano, para que o tonel não ficasse com muito ar dentro, o que oxidaria o vinho. O conteúdo do tonel ainda é majoritariamente de vinho de 1727.
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Como na época normalmente os vinhedos eram plantados no que chamamos de “field blend”, com castas misturadas, este 1727 deve ser uma mistura de várias castas da época, como a Orléans.
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O vinho começou a ser comercializado, de forma muito restrita do século XIX. Algumas garrafas apareceram no catálogo da casa de leilões inglesa Christie’s em 1829, talvez vinda de alguma adega de algum falecido.
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Pois, sorte a minha, um generoso amigo (a quem eu agradeço agora) adquiriu em um leilão 2 garrafas (aparentemente de 375ml cada) deste raríssimo vinho e provamos ambas.
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VEJA A ANÁLISE DOS VINHOS NOS COMENTÁRIOS
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Apostelwein Rüdesheimer 1727
GARRAFA 1
A primeira amostra é de um engarrafamento do final do século XIX, portanto um vinho que ficou ao menos uns 120 anos na garrafa. Tinha cor opaca, marrom escura. Aroma químicos, notas oxidativas. Paladar oleoso, mais para aceto balsâmico do que para vinho. O mais próximo que já estive de degustar um zumbi.
GARRAFA 2
A segunda era de um engarrafamento dos anos 1940 e seu vinho estava bem vivo! Cor bem mais clara que a primeira amostra, em tom entre âmbar e alaranjado. Aroma intenso e muito complexo, pude degustar por um longo tempo, sempre com novos aromas surgindo, com notas de frutas secas, avelãs, amêndoas, flores secas, maçã cozida, ervas, sândalo, gengibre, tostados e notas minerais. Paladar muito vivo, impressionante! Bastante seco e encorpado, com acidez bem alta, sente-se taninos secantes, muito longo, sem oxidação, mas ligeira nota de agradável de amargor no fim de boa. Lembrou algo entre um Madeira e um Jerez. Um vinho imponente e ainda delicioso, caminhando para seus 300 anos de idade. A experiência inesquecível!
Nota: 100