Por Marcelo Copello
Nem tudo são flores no mundo do vinho. As vezes o bouquet murcha e o cheiro delata que há algo de podre no reino de BACO.
O tema de hoje é um dos defeitos mais comuns no vinho, chamado bouchonée (buxonê). Bouchon significa rolha em francês. Em Portugal diz-se que o vinho está “com gosto de rolha”, ou simplesmente “com rolha”, na Espanha com “corcho”, na Itália com "tappo”. No Brasil usamos o francês bouchonée.
Diz-se bouchonée do vinho que tem um cheiro desagradável, de mofo, que vem de sua rolha, causado por uma substância química, o TCA, ou 2-4-6 Tricloroanisol.
Mas o que é isso? O TCA, ao contrário do que muitos pensam, não é em si um fungo, mas sim um composto químico, que ocorre em locais onde haja fungos e cloro. No caso do vinho este local pode ser um rolha contaminada.
É importante ressaltar que o bouchonée pode ocorrer em diferentes níveis de infecção. Em níveis altos o vinho fica com um aroma obviamente horrível e defeituoso, que qualquer pessoa percebe e o vinho é imediatamente descartado. Existem casos em que o nível de infecção é intermediário, e apenas pessoas mais sensíveis ou trinadas percebem. E ainda há casos em níveis baixíssimos, onde não se percebe o aroma peculiar de mofo, mas o TCA “mata” de forma silenciosa o vinho, que fica apagado e com aromas e sabores prejudicados, sem uma causa aparente.
Mas qual a chance de um vinho estar bouchonée? Fala-se que 2% de todos os vinhos tapados com rolha de cortiça teriam este problema. Na minha experiência este número é bem menor e vem caindo. Na recente Grande Prova Vinhos do Brasil 2020, na qual provamos cerca de 1,3 mil vinhos, este número ficou em cerca de 1,5%.
E o vinho bouchonée faz mal a saúde? Não, não faz, é só o cheiro ruim mesmo.