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Margaux x Palmer, o desafio da elegância

Margaux x Palmer, o desafio da elegância

19/12/2018

Marcelo Copello

Mundo do Vinho

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Por Marcelo Copello

O que é elegâcia em um vinho? Um vinho elegante não difere muito, em sua discrição, de uma pessoa elegante, que, independente de sua força, se exprimirá com leveza, requinte, finese, graça e harmonia. E se este vinho/pessoa elegante for um senhor de quase 70 anos, terá também altivez, dignidade e muitas histórias para nos contar.

Provei com exclusividade o mais elegante dos Premier Crus Classés de Bordeaux, o Château Margaux, e seu arqui-rival, o Château Palmer, às cegas e em algumas das melhores safras de Bordeaux de todos os tempos - 1983, 1970, 1961, 1955 e 1945. Não custa lembrar da magnitude desta prova, já que os 1961 e 1945 são raridades e estão entre os melhores vinhos já feitos no planeta. Preços? Só o google poderá responder.

A comuna de Margaux

Bordeaux é uma região muito extensa e com muitas denominações de origem, que estão divididas em três níveis: regional (Bordeaux), subregional (que traz no rótulo o nome da sub-região. Ex: Saint-Émilion) e comunal (que traz no rótulo o nome da comuna, uma espécie de sub-região da sub-região). Margaux é uma das melhores comunas de Bordeaux, na sub-região do Haut-Médoc.

Embora Margaux tenha apenas um Premier Cru Clásse, o Château Margarux, que lhe dá nome, seus 1.400 hectares de vinhedos têm a maior concentração de Grand Crus Classés de Bordeaux, com 24 Châteaux, além de 20 Cru Bourgeois.

Enquanto a comuna de Pauillac (onde ficam os Premier Crus Classés: Château Latour, Ch. Lafite Rothschilds e Ch. Mouton Rothschilds), tem solo mais argiloso, Margaux tem uma proporção maior de cascalho e calcário. Enquanto argila dá força ao vinho, o cascalho/calcario é associado à elegância. Como resultado avas em Margaux amadurecem 3-5 dias mais cedo que em Pauillac e proporcionam vinhos um pouco menos concentrados e mais frescos.

A decantada elegância deu aos vinhos de Margaux a fama de vinhos ditos "femininos" (menos poderosos). Discordo, primeiro pelo sexismo aí contido, depois pois se os vinhos de Margaux são obviamente elegantes, não por isso têm menos estrutura, densidade e longevidade. Está aí o Ch. Margaux 1945 (além do famoso Ch. Margaux 1900), potente e vivíssimo para provar minha tese.

O Château Margaux

Embora a priedade exista desde o século XII, com o nome inicial de La Mothe, o famoso castelo estampado no rótulo do Ch.Margaux só foi construido em 1811. O Château mudou de dono várias vezes até que em 1977 foi comprado André Mentzelopoulos. A este empreendedor grego, falecido em 1980, se deve o inicio de uma nova era para este vinho. Hoje à frente dos negóciso está sua filha Corinne, que em 1983 colocou em sua equipe o jovem de 27 anos Paul Pontallier, que em 1990 viria a assumir assumir a direção do Château e se tornar uma das figuras mais respeitadas de Bordeax.

Os 78 hectares da propriedade são plantados com 75% Cabernet Sauvignon, 20% Merlot, 5% Petit Verdot e Cabernet Franc e 15% de Sauvignon Blanc, com rendimentos médios de 40 hectolitros por hectare. Das 380 mil garrafas pruduzidas anualmente em média, ente 40% e 70% são do Gran Vin (Ch. MArgaux), as demais são do Pavillon Rouge (seu segundo vinho) e de seu branco, o Pavillon Blanc. O Gran Vin fica, conforme a safra, em entre 18 e 24 meses em barricas 100% novas, de média tosta, em parte fabricadas no Château e em parte compradas de cinco tanoarias.

O Château Palmer

Injustamente classificado em 1855 como Troisième (terceiro) Cru Classé, o Château Palmer teria lugar entre os primeiros, ou ao menos entre os segundos. Na comuna de Margaux o Ch. Palmer é certamante o segundo melhor vinho e em algumas safras desafia a soberania do depois do Ch. Margaux.

Até 1748 esta propriedade era parte do Ch. d´Issan, quando 50 hectares foram vendidos e batizados com o nome dos novos prorpetário, Château Gascq. Pouco mais de meio século depois, um novo dono, o general inglês Charles Palmer, e o novo e definitivo nome, Château Palmer. A era de ouro deste vinho, no entando, só começariaem 1843, quando a família de banqueiros parisienses Péreire (rivais dos Rothschilds) comprou a propriedade e construiu o atual e grandiosos castelo e investiu na melhoria de qualidade do vinho. Desde 1938 o Palmer pertence a um consorcio de negociantes de Bordeaux, capitaneados pelos grupos Sichel e Mähler-Besse.

Uma caracteristica do Palmer é ter muito Merlot. Até os anos 1960 os vinhedos chegavam a 60% de Merlot, mas hoje seus 52 hectares são plantados com 47% Merlot, 47% Cabernet Sauvignon e 6% Petit Verdot, com rendimento entre 45 e 48 hectolitros por hectare. Das 250 mil garrafas pruduzidas anualmente em média, cerca de 50% são do Gran Vin e o restante de um segundo vinho, que até 1998 chamava-se Réserve Du Général e hoje chama-se Alter Ego. O Gran Vin fica cerca de 20 meses em barricas 45% novas de tosta leve.

O tira teima

Provamos totalmente às cegas, sem saber produtores nem safras, 10 taças embaralhadas contendo as mesmas 5 grandes safras de cada Château - 1983, 1970, 1961, 1955 e 1945. Vejamos os resultados.

Safra

Vencedor

Placar

1945

Château Margaux

99 x 95

1955

Château Palmer

97 x 95

1961

Château Palmer

100 x 95

1970

Château Palmer

96 x 0

1983

Château Margaux

97 x 95

PLACAR FINAL

Château Palmer 3 x 2 Château Margaux

Château Margaux 1945

1945 foi uma das grandes safras do século XX, não apenas por ser o ano da vitória, mas por ser uma safra de vinhos concetrados, taninosos e longevos. Como já dito os vinhos da comuna de Margaux são famoso por serem "femininos", mais macios - mas não foi o que vi neste 1945 e nos 1970 - vinhos muito potentes. Este 1945 estava alaranjado muito claro, evoluido. Aroma muito complexo e bastante mineral, com notas de grafite, flores secas, cedro, tabaco, café e muitas especiarias. Paladar denso, seco, aveludado mas com taninos ainda presentes, longo, muito evoluido mas ainda tem taninos presentes e tem equilibrio perfeito, muito longo, longe de estar decadente. Poderoso na sua maturidade, ainda deve viver muitos anos. Um Margaux nada feminino.

Nota 99 pontos

Château Palmer 1945

Alaranjado claro. Arom, evolído e complexo, muito rico, com notas de figos secos, porcini, flores maceradas, tabaco, couro, cedro. Paladar surpreende com muitos taninos ainda vivos após quase 70 anos. É um vinho expressivo, opulento, em sua maturidade, impressiona, embora seja superado pelo Margaux do mesmo ano.

Nota 95 pontos

Château Margaux 1955

Alaranjado entre claro e escuro. Aroma expressivo, complexo, delicado, evoluido, couro, tabco, defumados, muitas especiarias, frutas secas. Paladar é um veludo, macio,  harmonioso, feminino, equilíbrio e finesse espetacular. Não tem a mesma musculatura dos demais e não deve viver tanto, mas está delicioso agora.  Nota 95 pontos

Château Palmer,1955

De cor escura em tom granada. Aroma com bom frescor, notas de frutas negras maduras, terra molhada, especiarias picantes, madeiras, couro, café, chocolate, nota animal. Paladar de bom corpo, largo, gordo, macio, com notas de evolução, taninos aveludados, feminino, encantador, delicioso. Contra prognósticos, o azarão da prova surpreendeu e se mostrou o vinho mais sedutor, expressivo, fácil de agradar, de toda a prova.

Nota 97 pontos

Château Margaux 1961

De cor escura, granada alaranjado. Aroma concentrado, com muito terra molhada, madeiras e especiarias, canela, tabaco, frutas secas, flores maceradas, couro, nozes, tostados. Paladar de médio corpo, aveludados, taninos prontos, elegante, equilibrado. Provei este vinho há cerca de 5 anos atrás, continua um grande vinho, mas me pareceu bem inferior e bem mais evoluído agora. Cada garrafa é uma história.

Nota 95 pontos

Château Palmer 1961

1961 foi uma das melhores safras de todos os tempos. Já tive oportunidade de provar todos os Bordeaux de 1961 juntos e o Palmer foi um dos melhores vinhos desta safra. Granada bastante escuro. Aroma compacto que salta da taça, com nota doce de frutas negras bastante maduras, amoras, cogumelos, flores, terra molhada, tabaco, defumados, cedro, especiarias, tostados, café, nota animal. Paladar volumoso e aveludado, taninos doces, profundo, com camadas de sabor, perfeito com equilíbrio, finesse e força para mais uma ou duas décadas de guarda. Coisa muito séria, para se guardar na memória.

Nota 100 pontos

Château Margaux 1970

OFF - defeituoso

Château Palmer 1970

Granada escuro. Aroma intenso e muito puro, com notas de musgo, especiarias picantes, pimenta, alcaçuz, frutas negras, notasl florais de rosas, tabaco, cedro. Paladar encorpado e nervoso, com taninos surpreendentemente presentes, talvez pela percentaagem de Petit Verdot (16%) usada excepcionalmente neste ano quente. Um espetáculo de vinho - forte, potente, matador, como nossa seleção do Tri de 70.

Nota 96 pontos

Château Margaux 1983

1983 para muitos especialistas é superior a a mais famosa 1982, e em um estilo semelhante, quente e concentrado. Este 1983 tinha cor granada escura. Aroma intenso, rico, quente e denso, com frutas maduras, cassis, floral de violetas, terra molhada, madeiras, especiarias. Paladar concentrado e macio, enche a boca, com tanino aveludados, doces e ainda bem vivos, perfeito equilibrio. Muito expressivo agora, mas pode evoluir por mais algumas décadas. Um Margaux quente e potente, mas com a elegancia, textura delicada e finesse que o fazem famoso. Grande vinho.

Nota 97 pontos

Château Palmer 1983

Cor granada escura. Aroma intenso, puro e limpo, frutado e mineral, ainda fresco, com notas de grafite, frutas negras maduras, cassis, especiarias doces, notas florais de violetas, café, defumados. Paladar encorpado, quente e macio, com taninos aveludados bem presentes. Um grande Palmer, jovem, expressivo, quente e complexo.

Nota 95 pontos

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Marcelo Copello

Marcelo Copello


Marcelo Copello é um dos principais formadores de opinião da indústria do vinho no Brasil, com expressiva carreira internacional. Eleito “O MAIS INFLUENTE JORNALISTA DE VINHOS DO BRASIL” pela revista Meininger´s Wine Business International, e “Personalidade do Vinho” 2011 e 2013 pelo site Enoeventos.

Curador do RIO WINE AND FOOD FESTIVAL, e Publisher do Anuário Vinhos do Brasil, colaborador de diversos veículos de imprensa, colunista da revista Veja Rio online. Professor da FGV, apresentador de rádio e TV, jurado em concursos internacionais de vinho, como o International Wine Challenge (Londres). Copello tem 6 livros publicados, em português, espanhol e inglês, vencedor do prêmio Gourmand World Cookbook Award 2009 em Paris e indicado ao prêmio Jabuti.

Especialista no mercado e nos negócios do vinhos, fazendo palestras no Brasil e no exterior, em eventos como a London Wine Fair (Londres). Copello é hoje um dos palestrantes mais requisitados. Para saber mais sobre as palestras e serviços de Copello clique AQUI

  

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