Por Marcelo Copello
Conheci Joe Czerwinski há alguns anos em Nova Iorque em uma degustação de vinhos australianos da Penfolds na qual ficamos “internados” 2 dias inteiros provando cerca de 150 vinhos. Após tantos litros juntos pude ver em Joe as qualidades de um grande crítico: expertise, precisão, clareza, simplicidade e sinceridade.
Joe era da revista americana Wine Enthusiast e acaba de ser contratado pela Wine Advocate, empresa do critico de vinhos mais poderoso do planeta, Robert Parker e me concedeu esta entrevista exclusiva.
Marcelo Copello: Qual é a sua expectativa em trabalhar na equipe, de Robert Parker, o crítica de vinhos mais influente do mundo?
Joe Czerwinski: Não tenho certeza do que esperar. Trabalhei no mesmo local há 18 anos, então tudo no Wine Advocate é novo para mim. Obviamente, Bob criou algo excelente aqui, então nosso trabalho agora é manter esse nível de qualidade e sempre tentar superar as expectativas dos nossos leitores.
MC: Como costuma avaliar vinhos? Sozinho? Com que frequência? Por tema? País / uva? Você pode nos contar sua rotina de degustação?
JC: No meu trabalho anterior, sempre provei às cegas. Eu prefiro assim na maioria dos casos, e vou tentar continuar desta forma. Os vinhos serão avaliados em grupos de pares tanto quanto possível. Por exemplo, quando eu visitar o Vale do Rhône no final deste verão, vou provar os vinhos às cegas de certas regiões, todas as manhãs, depois visitar os produtores selecionados durante a tarde, para obter seus comentários pessoais e provar amostras de barrica ou tanque.
MC: Como responsável pelo Rhône, Languedoc, Austrália e Nova Zelândia, você provará muitos Syrah e Sauvignon Blanc, por exemplo. Quais são as suas preferências em termos de vinhos, estilos, castas?
JC: O mais importante para mim é que um vinho - independentemente da variedade de uva ou da origem - ofereça prazer. Os elementos básicos da minha avaliação incluem equilíbrio, persistência, intensidade e complexidade. Eu acho que há espaço para muita variação estilística dentro destes critérios.
MC: Como você acha que a Web 2.0, mídias sociais e ferramentas como Vivino e Cellar Tracker estão afetando o papel dos críticos do vinho?
JC: Eu não acho que o papel dos críticos do vinho tenha mudado - nosso papel é recomendar vinhos aos nossos leitores e explicar por que estamos fazendo essas recomendações. O que mudou é como essa informação é disseminada. O desafio hoje é monetizar o processo de publicação, assim como em qualquer empreendimento jornalístico. No Wine Advocate, uma vez que estamos totalmente apoiados por assinantes, precisamos dar aos leitores informações que não podem obter em nenhum outro lugar, e que eles valorizam o suficiente para pagar.
MC: O Brasil está atravessando uma grave crise, um momento difícil quando os consumidores procuram vinhos ultra baratos. Você poderia dar aos leitores brasileiros algumas boas dicas de compras? Do Rhône, Languedoc, Austrália e Nova Zelândia, quais tipos, regiões etc são as melhores compras do momento?
JC: No nível mais básico, nunca existiu tanto vinho bebível e barato como hoje. Mas o grande desafio é comprar vinhos únicos (que tragam o caráter de sua origem) a preços razoáveis? Dentre as regiões que eu cubro sugiro:
Côtes du Rhône e Côtes du Rhône Villages das safras 2015 e 2016. A qualidade é excelente e os preços normalmente estão abaixo de US$ 15 (na origem). Posso citar os Villages de Laudun (especialmente para brancos) e Visan.
Do Languedoc, procure os vinhos de denominações subestimadas como Faugères, Corbières e Minervois.
Da Austrália, raramente encontro valor nas categorias de preços mais caras, mas penso que a partir de US$ 20-50, os vinhos geralmente superam os concorrentes da Califórnia (Cabernet Sauvignon) e da França (Syrah).
A Nova Zelândia tem um dos maiores preços médios por litro de vinho entre todos os países produtores de vinho do mundo, de modo que as pechinchas são escassas. Ainda assim, é possível encontrar alguns excelentes tintos em s Hawke's Bay por menos de US$ 20.
MC: Parker paga bem? Você vai ficar rico?
JC: Nossa profissão parece muito mais glamorosa vista de fora: viajar para o exterior, beber bons vinhos em restaurante estrelados. Embora eu tenha a sorte de ter um padrão de vida de americano de classe média, não sou rico nem espero ficar rico. Sou pago para degustar e escrever de vinho: disso eu nunca vou reclamar.
Leia também: Keynes e o Champage