Por Marcelo Copello
Antes de começarmos, aviso não se tratar do La Romanée-Conti, seu vizinho mais famoso, mas menos raro. Tive o privilégio de provar o La Romanée 1962 (e por isso escrevo este artigo), fato pelo qual agradeço aos que me proporcionaram e compartilharam comigo este momento.
O La Romanée é o menor Grand Cru e menor AOC de toda a França, com 0,84 hectares e hoje um monopole pertencente a família Liger-Belair (proprietário do Chateau de Vosne-Romanée), com producao anual media de apenas 3.600 garrafas.
O vinhedo “nasceu” depois que o a família Liger-Belair comprou 6 parcelas entre 1815 e 1826 de um vinhedo que era chamado de “Aux Echanges”, que foi declarado Monopole (vinhedo de um único dono) em 1927.
Liger-Belair alega que até 1760 este seria um vinhedo único, unido ao La Romanee-Conti, até o príncipe de Conti comprar uma parcela. A Domaine de La Romanée-Conti contesta o fato e diz que nunca foram o mesmo vinhedo, e o La Romanée e o Romanée-St-Vivant teriam se apropriado do nome do vizinho mais famoso.
O vinhedo foi arrasado pela Phylloxera no final do século XIX e replantado no início do século XX. Por motivo de mortes da família Liger-Belair e desinteresse de seus descendestes, entre 1947 e 2001 o vinhedo foi “terceirizado”, sendo administrado pela família Forey. Parcelas de vinhos eram vendidos a múltiplos negociantes e vendidos com diversos rótulos, incluindo “Domaine de La Romanée” (que existiu até 1969, feito pelo negociante Bouchard). Em 1976 uma mulher da família Liger-Belair casou com um Bouchard, o que iniciu uma relação entre as famílias que durou até 2001
Certamente o o período “de ouro” deste vinho até hoje foram nas safras em que a Maison Leroy comprou lotes (sempre os melhores) de suas uvas. Entre 1950 e 1962 Henri Leroy teve exclusividade na compra de vinhos, elevage e comercialização. Henri e sua filha Marcelle (apelidada de Lalou, que começou a trabalhar na Maison em 1955) faziam (e ela ainda faz) uma rigorosa seleção e um trabalho primoroso em todo o processo.
Desde 2002 a família Liger-Belair retomou o controle do vinhedo e da vinificação. Entre 2002 e 2005 Liger-Belair e Bouchard dividiam os vinhos e faziam o elevage em separado. Desde 2006 Liger-Balair rotomou a exclusivade total deste vinho, e segundo os críticos a qualidade desde então vem subindo.
Das safras antigas as mais reputadas são: 1865, 1908, 1911, 1947, 1951, 1957, 1962, 1966, 1967 e 1978
Este La Romanée Grand Cru 1962, Maison Leroy agora provado tinha cor clara em tons granada-alaranjados. Aroma etéreo, intenso e sedutor, com grande finesse, floral, delicado, com notas de tabaco, flores secas, cereja passa, musgo, cogumelos, couro, cedro, ervas e algo balsâmico. Paladar com textura macia, saboroso, com taninos sedosos, profundo, longo. Maduro e ainda perfeito, não deve evoluir mais. Muito persistente, com elegância suprema.
Nota: 98 pontos