Por Marcelo Copello
O Romanée-Conti é o vinho de maior prestígio do mundo. Com produção ínfima que varia entre 4.500 e 6.000 garrafas ao ano, há séculos que muito se fala dele, mas relativamente pouco dos outros vinhos do mesmo produtor, quase tão espetaculares quanto seu irmão mais famoso. Baco teve o privilégio de participar da raríssima experiência de degustar 52 safras de um destes vinhos, o Échézeaux (pronuncia-se êxêzô)
A DRC
Localizada em Vosne-Romanée, no coração da Borgonha-França, a Domaine de la Romanée-Conti (DRC) tem rica e longa história, que remonta ao século X. Nesta época, o vinhedo então chamado Cros des Clous pertencia aos monges da ordem de St.Vincent. A propriedade, depois rebatizada como La Romanée, teve outros donos, um deles o príncipe de Conti, que acrescentou seu nome ao vinhedo. Após ser confiscado e leiloado em 1794 na Revolução Francesa, o vinhedo mudou de donos até que em 1869 Jacques-Marie Duvault-Blochet o adquiriu e anexou os vinhedos de Richebourg, Grands-Échézeaux e Échézeaux. Aubert de Villaine, descendente de Duvault-Blochet é quem está hoje a frente da empresa. A DRC produz 7 famosos Grand Crus, todos de produção muito pequena e alto preço: La Romanée-Conti, Le Montrachet, La Tâche, Richebourg, Romanée-Saint-Vivant, Grands-Échézeaux e
Échézeaux.
A AOC Échézeaux
Não é apenas a DRC que produz Échézeaux. Esta Appellation d´Origine Contrôlée (AOC), localizada na comuna de Flagey-Échézeaux, tem nada menos que 84 donos e ocupa cerca de 38 hectares (área bastante grande para um Grand Cru). Cuidado, nem todo Échézeaux vale seu preço. Com uma profusão de donos, solos, subsolos e exposições ao sol, a qualidade destes vinhos é bastante irregular. O melhor (e maior) proprietário de vinhedos em Échézeaux é a DRC, com 4,67 hectares. Outros bons produtores são Henry Jayer, Dujac, Michel Clerget, René Engel, Georges Mugneret e Mongeard-Mugneret.
O Échézeaux da DRC
Elaborado 100% com uvas Pinot Noir e com produção entre 15.000 e 18.000 garrafas ao ano, o Échézeaux da DRC custa R$ 2.280 na Expand (safra de 2008). Safras mais antigas e raras podem alcançar altas cifras em leilões.
Dos vinhos da DRC o Échézeaux é tido como o mais aberto e fresco, muito expressivo desde jovem, mas com estrutura para evoluir por décadas. A DRC não produziu Echezeaux em 1950, 1951,1954, 1960, 1963, 1965 e 1968
Degustação e emoção
A prova foi composta de 52 safras, entre 1935 e 2009 (com 3 safras em garrafas magnum, 1985, 1988 e 1995). Os vinhos não foram provados em ordem cronológica, mas sim em grupos compostos por safras de diferentes décadas, com o objetivo de ter uma degustação mais equilibrada.
Uma observação importante é que em uma degustação de vinhos mais antigos, o estado da garrafa faz grande diferença. Nesta prova a safra de 1952, por exemplo, considerada muito boa, mas com nível de vinho baixo na garrafa (evaporado pelo tempo), foi de longe batida pelo 1953, ano médio, mas cuja garrafa estava perfeita, totalmente cheia.
Eu não poderia deixar de registrar aqui a emoção e a aula que é para um enófilo provar tantas safras da DRC juntas. Ao perfilar 52 safras de um dos maiores vinhos do mundo, temos em perspectiva a história de um vinho, de um vinhedo, de um produtor, de uma região, e também algumas páginas da história do vinho no mundo. Ao final de tudo temos também o prazer de degustar tantos vinhos deliciosos em diferentes estágios de evolução, dos bebês aos vovôs. Publicarei aqui os vinhos com as 10 maiores notas em ordem decrescente de safra, facilitando a leitura. Consulte a tabela com todas as safras e notas.
Destaques
2005
Duas garrafas foram testadas com bastante diferença entre elas. Uma com sinais de evolução precoce e e outra perfeita, mais fresca e mineral. Uma safra soberba, magnificamente elegante e equilibrada, com taninos finíssimos, para longa guarda.
Nota: 98 pontos
2002
Uma safra excepcional, com grande concentração de fruta, expressivo mesmo em sua juventude, mostrando paladar de grande profundidade, taninos finíssimos e bem presentes, muito longo, concentrado e equilibrado
Nota: 98 pontos
2001
Expressivo, complexo, com aromas bastante minerais e frutados, passas. Paladar seco, com taninos finíssimos e presentes, com grande equilíbrio. É sério e para longa guarda, ainda começando sua vida.
Nota: 98 pontos
1999
Embora jovem é muito expressivo, quente e denso, com compotas, frutas maduras, madeira, tostados, muitas especiarias. Paladar gordo, opulento, macio e longo. Delicioso e encantador, contudo não demonstra de grande potencial de longevidade.
Nota: 98 pontos
1995
De uma garrafa magnum (o que faz grande diferença em vinhos mais velhos). Encorpado, robusto, seco, sério, elegante e um pouco fechado. De grande estrutura moldada por taninos finos presentes e boa acidez. Ainda muito jovem e longe de seu auge, deve evoluir por décadas.
Nota: 98 pontos
1990
Duas garrafas testadas, uma deles com uma ponta de TCA que prejudicou o vinho e a outra espetacular. Um grande ano, opulento, quente, expressivo, com muitas frutas negras, musgo, taninos doces bem presentes, irresistível. Não foi minha maior nota mas foi o vinho que mais me encantou.
Nota: 99 pontos
1989
Um Échézzeaux gordo e expressivo, de um ano quente, entrando em seu auge. Aroma intenso, aberto e complexo, paladar largo e macio, muito equilibrado.
Nota: 98 pontos
1988
De uma garrafa magnum. Granada claro com reflexos alaranjados, aromas complexos, com notas florais, de terra molhada, de chá, paladar seco e longo, com taninos presentes, ainda vivos. Um vinho austero, ainda jovem e na ascendente.
Nota: 98 pontos
1978
Das duas garrafas provadas uma estava excelente e outra era simplesmente a perfeição.
Expressivo e poderoso, esta famosa safra não decepcionou, com notas minerais, de musgo, frutas maduras, taninos finíssimos ainda presentes. Um vinho completo e perfeito em seu auge.
Nota: 100 pontos
1953
Foi a maior surpresa da prova. 1953 é considerado um ano apenas médio, mas esta garrafa estava excepcional e foi de longe o melhor dentre os vinhos mais velhos da prova. Muito expressivo nos aromas, etéreo, com notas com de sous bois, mineral terroso, especiarias, frutas secas, paladar macio, pronto e redondo, um maravilhoso e perfeito borgonha maduro.
Nota: 99 pontos
1935
Não foi um dos mais bem pontuados da prova, mas destaco aqui pela emoção de provar uma vinho tão antigo mas ainda prazeroso. 1935 foi um ano de vinhos tânicos e longevos, e aqui está a prova, com um caldo denso, quase cremoso, com cor a aromas que lembram um Porto Tawny muito velho, totalmente etéreo e paladar muito macio e longo.
Nota: 90 pontos
Safra |
Nota |
Safra |
Nota |
Safra |
Nota |
Safra |
Nota |
Safra |
Nota |
||||
2009 |
97 |
1999 |
98 |
1989 |
98 |
1979 |
97 |
1969 |
off |
||||
2008 |
95 |
1998 |
93 |
1988 |
98 |
1978 |
100 |
1967 |
92 |
||||
2007 |
97 |
1997 |
94 |
1987 |
97 |
1977 |
94 |
1966 |
95 |
||||
2006 |
94 |
1996 |
92 |
1986 |
93 |
1976 |
97 |
1964 |
off |
||||
2005 |
98 |
1995 |
98 |
1985 |
97 |
1975 |
off |
1962 |
off |
||||
2004 |
92 |
1994 |
89 |
1984 |
93 |
1974 |
90 |
1961 |
off |
||||
2003 |
91 |
1993 |
91 |
1983 |
93 |
1973 |
89 |
1959 |
90 |
||||
2002 |
98 |
1992 |
96 |
1982 |
96 |
1972 |
90 |
1958 |
94 |
||||
2001 |
98 |
1991 |
off |
1981 |
92 |
1971 |
90 |
1957 |
94 |
||||
2000 |
95 |
1990 |
99 |
1980 |
95 |
1970 |
91 |
1953 |
99 |
||||
1952 |
93 |
||||||||||||
1935 |
90 |
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