O choro do vinho
Por Marcelo Copello
O ato de rodar a taça de vinho é típico dos bebedores mais frequentes. Eu por exemplo, já faço isso automaticamente, tanto que já me peguei girando copos de água. Gira-se a taça principalmente para aerar o líquido e intensificar a liberação seus aromas, mas não apenas. Ao girar-se o líquido no copo podemos observar seu teor alcoólico.
Faça a experiência: rode a taça de forma a molhar as paredes do vidro e aguarde. Depois de alguns segundos formam-se o que chamamos arquetes, lágrimas ou pernas, pequenos arcos de líquido que escorre pelas paredes do copo. Este fenômeno é chamado de “efeito Marangoni”, em homenagem ao físico italiano (1840-1925) que estudou o fato.
O vinho é composto principalmente por água e álcool. Cerca de 70-90% do primeiro, 12-15% do segundo e o restante completado por centenas de substâncias.
Quando molhamos as paredes do vidro/cristal, forma-se uma película. Enquanto o álcool, mais leve, evapora, a água, mais pesada, força o liquido escorrer. Por isso quanto mais um vinho chora, quanto mais numerosas e finas suas pernas, mais álcool este conterá e mais lentamente descerão suas lágrimas.
Muito se fala que a glicerina, um dos inúmeros componentes do vinho, influencia suas lágrimas. Isso não é verdade, pois a proporção deste componente é insuficiente para tal. A geometria do copo (se mais ou menos ovalado) e a temperatura do líquido sim, potencializarão o choro.
Este experimento com vinho já foi objeto de vários estudos de física, embora esta lei não se aplique apenas ao fermentado de Baco, e sim a qualquer líquido.
É muito difícil apenas pelo exame visual dizer se o teor alcoólico de um vinho é de 13% 14% ou 15%, por exemplo, pois a diferença em suas lágrimas será mínima. Contudo, ao se comparar um vinho normal (não fortificado), com um vinho — elaborado com a adição de aguardente vínica, um destilado de uvas — a choradeira será óbvia.
Faça a experiência também com bebidas destiladas, é um show quase pirotécnico.