“Como fazer uma pequena fortuna no mundo do vinho? Começando com uma grande fortuna!”. A frase acima já é gasta, mas se aplica como uma luva à Altaïr, uma espetacular vinícola butique chilena. Tudo começou em 2000, quando dois bilionários se encontraram em um jogo de polo e decidiram unir paixões e fortunas para fazer um dos maiores vinho do Chile. O francês Laurent Dassault, proprietário de um conglomerado industrial que vai desde aviões Mirage até imóveis, e o chileno Guillermo Luksic, um dos donos da Quiñenco, um dos maiores conglomerados da América Latina que atua nos ramos financeiro, mineração, energia, transportes e telefonia. Em comum, além do saldo bancário, ambos traziam vinho nas veias. A família de Dassault é proprietária dos Châteux Dessault e La Fleur em Saint-Emilion (Bordeaux-França), e a Quiñeco controla a San Pedro, o segundo maior grupo vinícola do Chile.
Empresa-conceito
Nada foi economizado na criação da Altaïr, batizado com o nome da estrela mais brilhante da constelação de Águia. O investimento pesado foi do plantio à construção da vinícola (por gravidade, um belo projeto do arquiteto Samuel, Claro, totalmente integrado à paisagem) e conta com equipamentos top de linha como os caríssimos tanques e barricas francesas de primeira qualidade. Segundo a enóloga Ana-Maria Cumsille e o agrônomo Rene Vasquez, o conceito é «colocar o vale na garrafa», produzindo um verdadeiro «grand cru», com um mínimo de intervenção do homem e que reflita o terroir do Vale de Cachapoal. E a despeito da recente saída de Dassault da sociedade, a influência francesa no projeto segue firme graças à consultoria do enólogo bordalês Pascal Chatonnet.
Terroir e uvas
A empresa produz apenas dois vinhos, o top Altaïr e seu irmão mais novo, Sideral. O terroir de Altaïr é peculiar, com vinhedos localizados em um micro clima nas colinas do Vale de Cachapoal (localizado 100 quilômetros ao sul de Santiago), com muito mais influência dos ares da montanha do que do mar, o que significa alta diferença de temperatura entre dia e noite, elevada concentração, frescor e maturação lenta das uvas, que são colhidas em abril. Os 72 hectares de vinhedos foram plantados no sopé da cordilheira, com 600 a 800 metros de altitude, densidade que chega a 10 mil pés por hectare e com inclinação de 35 graus. A área foi ocupada com 75% da variedade Cabernet Sauvignon e o restante é coberto com Syrah, Carménère, Cabernet Franc e Petit Verdot. Uvas como a Merlot e a Sangiovese chegaram a ser plantadas, mas foram deixadas de lado como prioridade para a localização. Os solos são uma mistura de argila e pedras de origem vulcânica. A colheita é manual e acontece sempre de manhã, bem cedo. São feitas várias “passadas” pelo vinhedo, com uma posterior dupla seleção, eliminando folhas, cacho e até uvas indesejadas. A fermentação começa depois de um leve esmagamento e de quatro a cinco dias de maceração a frio. Ela acontece em tanques de madeira, com posterior amadurecimento por 15 a 18 meses em barricas novas francesas.
Prova vertical
Baco testou cinco safras deste imponente tinto. Vejamos abaixo o resultado. Bom lembrar: a importação deste vinho é da Grand Cru.
Primeira safra do Altaïr, feita com 86% Cabernet Sauvignon, 7% Carménère e 7% Merlot. Vermelho granada muito escuro. Aroma complexo, de frutas secas, terra molhada, amoras, eucalipto, tabaco, madeiras. Paladar concentrado e sedoso, com 14,2% de álcool, taninos finos e prontos, macio e largo, em seu auge. Beber agora ou nos próximos cinco anos.
(nota 94)
73% Cabernet Sauvignon, 15% Syrah, 11% Carménère e 1% Cabernet Franc. A cor é um vermelho entre rubi e granada, muito escuro. Uma safra menos potente para o Altaïr, mas sem perder a força e o impacto e com um toque de frescor e elegância a mais. Com aromas densos de frutas negras, madeiras e especiarias. Paladar encorpado, com taninos finos e ainda presentes, aveludados, 14,5% de álcool, boa acidez, longo e fresco. Tem mais uma década de evolução pela frente. (Nota 92)
71% Cabernet Sauvignon, 17% Carménère, 6% Merlot, 4% Syrah e 2% Cabernet Franc. De cor rubi muito escuro. Aroma de muito frescor, onde a Cabernet e a Carménère dominam, com toques de mentol, eucalipto, além de boa concentração de frutas negras, terra molhada e especiarias da madeira. Paladar de boa estrutura e muito vivo, com taninos finos e aveludados, 14,9% de álcool, bom equilíbrio. Um Altaïr mais pronto, para beber já, embora possa chegar facilmente a algo entre 10 e 15 anos de idade.
Nota 91
Elaborado com Cabernet Sauvignon (dominante), Syrah, Cabernet Franc e Carménère.
Cor púrpura muito escura. Aroma concentrado e vegetal, com notas de ervas e eucalipto, musgo, muitas frutas negras como ameixas e amoras, além de chocolate e especiarias. Paladar bastante concentrado e ao mesmo tempo muito fino, com taninos presentes. Quente, com 14,7% de álcool e boa acidez. Tem equilíbrio para longa guarda. Excelente.
Nota 93
Elaborado com Cabernet Sauvignon (dominante), Syrah, Carménère e Petit Verdot. Ainda é uma criança, de cor roxa fechada e aroma denso, focado nas frutas negras e com toque de madeira ainda muito presente, além de nota vegetal de eucalipto, musgo e chocolate. No paladar é o mais concentrado de todos, com taninos aveludados, expressivo, mas ainda muito longo. Um vinho jovem, para mais 15 anos de guarda
Nota 94
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