Por Marcelo Copello
"Só a primeira garrafa de vinho é cara".
provérbio francês
Pode-se ver o vinho sob diversos ângulos: como alimento saudável, mera bebida alcoólica, símbolo de status, sofisticação e, eventualmente, esnobismo, história líquida, fonte inesgotável de prazer e descobertas, e, também, produto comercial. Abordaremos este último aspecto, especificamente o momento da compra.
O vinho é um produto de variedade infinita. Existem milhares de rótulos no mercado. Qual deles escolher? Para um enófilo inexperiente, a compra pode significar ansiedade e expectativa na escolha de uma boa garrafa.
O "vinho bom" nada mais é do que aquele que melhor se adapta a seu gosto pessoal, ao seu poder aquisitivo e à ocasião a qual se destina. Muitos têm como regra única de compra o "quanto mais caro, melhor o vinho". Preço, contudo, não caminha par-e-passo com qualidade. É simplesmente resultado da oferta e procura. Um Romaneé-Conti pode custar dez vezes o preço de um Château Latour. Conclui-se, então, que seja dez vezes melhor? Não, conclui-se apenas que existem menos garrafas de Romanée Conti disponíveis e/ou mais pessoas dispostas a pagar por elas.
Existem "vinhos bons" para todos os gostos, bolsos e ocasiões. Vejamos algumas dicas para amenizar suas dúvidas na hora da compra.
1•Responda três perguntas básicas: antes de comprar um vinho, seja em uma loja, supermercado ou restaurante, responda a três perguntas básicas, que ajudarão a você, o vendedor ou sommelier a definir o seu “vinho bom":
1-Quanto você quer gastar?
2-O que você e quem estará com você gostam?
3-O que vão comer?
Cumprida esta etapa você pode ler as dicas seguintes, ou se quiser simplificar, pule para última.
2• Procure uma loja ou importadora com boa variedade. O primeiro aspecto a se observar é a origem: um produtor renomado garante um padrão de qualidade, embora nem sempre os preços compensem. Nomes desconhecidos podem ser boas descobertas, mas têm uma dose de risco. Não deixe também de observar se existem safras recentes e se o estoque está sendo renovado.
3• A boa conservação é fundamental, desde a origem até a prateleira. Dessa forma, procure garrafas trazidas por bons importadores, em containers climatizados. Supermercados normalmente desligam o ar-condicionado à noite, portanto, cuidado ao adquirir exemplares mais frágeis de safras antigas (espumantes, brancos e tintos ligeiros) nestes locais.
4• Examine o estado do rótulo. Você não vai beber o rótulo, mas se estiver danificado indica maus tratos à garrafa. Veja como estas estão sendo conservadas. Não compre se ficaram numa vitrine expostas ao sol. Observe o nível de líquido na garrafa, compare com outras do mesmo vinho. Se o nível estiver baixo, não compre. Ao achar um exemplar desconhecido a preço atraente, adquira apenas uma unidade para provar antes de fazer uma aquisição maior.
5• Olhe a garrafa contra a luz. Repare na cor do vinho, quanto mais escuro mais corpo o vinho deverá terá (embora não necessariamente será mais adstringente ou ácido). No caso dos brancos de mesa uma cor muito dourada, escura, pode indicar que está oxidado. Por outro lado, se você observar pequenos cristais boiando e brilhando, não se preocupe, trata-se apenas do bitartarato de potássio (sal que se forma naturalmente na fermentação e que não tem gosto nem cheiro).
6• A safra é muito importante. Tenha sempre em mãos uma tabela de cotação de safras, que pode ser conseguida facilmente em catálogos de importadoras ou na Internet. Lembre-se de que a maioria dos vinhos não melhora com a idade, principalmente os brancos. Os de guarda custam mais caro com o passar dos anos, por isso desconfie de safras antigas a bom preço.
7• A origem também é muito importante, quanto mais específica melhor. Indicações como Mis en bouteille à la proprieté ou Mis en bouteille au Château (França), Imbottigliato all'origine (Itália), Erzeugerabfullung (Alemanha), Embotellado en el Origen (Espanha, Chile e Argentina), Estate Wine ou Estate Bottled (EUA, Austrália, África do Sul e Nova Zelândia), indicam que a bebida foi engarrafada por quem o produziu, o que é uma indicação de qualidade.
8• Outra observação interessante é uma lógica informal que existe nos rótulos de qualquer lugar do mundo. O destaque que se dá ao nome da região, do vinho ou do produtor. Quando o nome da região, por exemplo "Bordeaux", vem em destaque e o nome do "Château" vem abaixo e mais discreto, isto pode significar que dentro de Bordeaux este Château não é importante. Por outro lado, se o nome do vinho ou do produtor vem acima e com letras maiores que o da região, pode significar que este é um dos nomes importantes daquela região.
9• Procure também experimentar novidades. Estima-se que em nosso mercado, entre brasileiros e importados existam algo como 50 mil vinhos diferentes no mercado, por que se limitar a provar sempre os mesmos vinhos?
10• Pergunte a quem entende. Se você cumpriu a dica número um, pode simplesmente informar suas respostas ao vendedor da loja ou sommelier do restaurante e pedir ajuda. Estes profissionais foram treinados para isso e ficarão felizes em ajudar, por vezes indicando boas descobertas.
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