Conversei por email com Edegar Scortegagna, novo presidente da ABE, jovem enólogo de uma geração que está mudando a cara e o gosto dos vinhos brasileiros. Leiam nossa conversa:
Marcelo Copello - Nos conte um pouco de sua trajetória, formação e carreira.
Edegar Scortegagna - Eu nasci praticamente debaixo de uma videira, minha família sempre sobreviveu produzindo uvas e vinhos e em 1998 entrei na Escola de Enologia de Bento Gonçalves, hoje IFBG, e la fiz a primeira formação em Técnico em Enologia onde finalizei em 2001. Meu sonho sempre foi em conhecer a Itália e me aperfeiçoar no mundo dos vinhos por lá, então foi com muita dificuldade que em 2002 consegui fazer um estágio em Verona – Itália e depois disso apareceu a oportunidade para estudar por lá. Em 2004 então, me mudei para Trento onde iniciei minha formação mais profunda no mundo dos vinhos. Nesta cidade estava ligado ao Università Degli Studi di Trento e ao Instituto San Michele All´Adige (Fundazione Edmund Mach), umas das melhores escolas de Enologia do Mundo. Fiquei por ai 3 anos e em seguida continuei minha formação por mais 2 anos em Udine na Università Degli Studi di Udine onde fiz a outra parte de minha formação. Neste meio tempo trabalhei e colaborei com várias vinícolas italianas sempre para praticar o que aprendíamos em aula. A parte mais impressionante disto tudo, é que em 2007 conheci o Sr. Deunir Argenta, proprietário da Luiz Argenta, que na época ainda era projeto. Nos encontramos em uma feira de máquinas enológicas em novembro em Milão. Ele me comentou sobre o projeto e eu pensei comigo mesmo, “este cara esta viajando”, mas, mesmo assim, quando voltei de férias em janeiro de 2008 conheci o projeto que estava sendo erguido. Então fomos conversando durante o ano e quando voltei definitivamente da Itália em janeiro de 20009, logo assumi a Luiz Argenta e até hoje estamos aqui trabalhando muito e nos divertindo ao mesmo tempo.
MC - A seu ver quais foram as maiores conquistas do vinho brasileiro nos últimos dez anos?
ES - Como sabemos o vinho brasileiro cresceu e ainda cresce muito qualitativamente. No meu ponto de vista, isso se deve a vários fatores.
1 – A nova geração de enólogos.
2 – A nova geração dos viticultores, com a cabeça mais aberta para a qualidade das uvas.
3 – A coragem de alguns empresários em fazer investimentos em novas vinícolas e tecnologia.
4 – A globalização e a facilidade da busca da informação instantânea em um clique na internet.
5 – E principalmente a insistência e força de vontade de cada produtor de uva e de vinho
MC - Quais as metas de sua gestão na ABE, o que você gostaria de realizar?
ES - A ABE completou no último ano 40 anos de trabalhos em prol do enólogo. Hoje sem nem uma dúvida, é uma associação sólida e séria que presta muitos serviços para os enólogos e para todo o setor vitivinícola brasileiro.Prefiro falar nós temos as metas, porque eu sou o presidente, mas por trás disso existem vários enólogos que compõem a diretoria e outros comitês que são de extrema importâncias para o sucesso da gestão. Queremos proporcionar para os nossos associados a possibilidade de uma constante atualização no mundo da uva e do vinho, porque acreditamos de desta forma podemos diretamente colaborar com a sequencia de crescimento da qualidade dos vinhos brasileiros, realizando palestras, seminários, viagens técnicas e tudo que for possível para estas atualizações. Sem deixar de lado o importante evento que é a Avaliação Nacional da Safra, organizada pela ABE, que movimenta todo o setor brasileiro em um único dia e na edição de 2017 completará 25 anos. Podem esperar uma linda festa.
MC - Se o gênio da lâmpada lhe desse 3 desejos, o que você gostaria de mudar no mundo do vinho?
ES – 1 – Primeiro lugar e mais importante: gostaria que o povo brasileiro deixasse o preconceito de lado e desse um voto de confiança para o nosso vinho, assim como todos os países fazem com seus vinhos.
2 – Pediria ao “gênio” para tributar o vinho brasileiro como alimento.
3 – Mais respeito com uma taça de vinho, pois por trás dela, existe um trabalho incansável de homens e mulheres que se dedicam um ano inteiro para proporcionar aquele momento de prazer quando se bebe uma taça.
MC - A Luiz Argenta conquistou nada menos que 9 medalhas de OURO na GRANDE PROVA VINHOS DO BRASIL, seis delas com vinhos tintos, que me deixaram muito bem impressionados. Vocês tem alguma novidade a caminho?
ES - A Luiz Argenta nasceu com um objetivo, produzir grandes vinhos em um terroir onde foi o berço da vitivinicultura brasileira em Flores da Cunha. Estamos sempre investindo em tecnologia e buscando tudo o que tem de melhor seja para nossos vinhedos que para a elaboração dos vinhos. Para o ano de 2017 teremos algumas novidades, o que posso adiantar é o lançamento de dois tintos de cortes. Um deles na linha LA CLÁSSICO e outro na Linha de guarda que é a LUIZ ARGENTA CAVE. Mais detalhes de variedades e tudo mais em breve. Mas diria que a grande novidade vai nascer durante esta safra que está iniciando. Posso adiantar que vai ser um vinho branco diferente....A previsão de lançamento é para setembro de 2017, fiquem atentos.
MC - Se você fosse fazer vinho fora do Brasil, que região escolheria?
ES - Eu sou suspeito em escolher um lugar, pois passei 5 anos na Itália, tenho passaporte italiano e sou descendente de italianos, então não precisaria nem dizer. Mas seria no Veneto norte da Itália, mais precisamente nas colinas ao norte de Verona na região da Valpolicella e produziria o vinho que mais me encanta que é o Amarone.